domingo, 22 de agosto de 2010

Quem cala também sente.


Sexta-feira retrasada, no auge de uma crise de stress, discuti com um cara bem legal que trabalha comigo. Ele é sempre muito engraçado e eu sou sempre bem-humorada, mas naquele dia não foi bem assim. O motivo era ridiculamente banal, mas foi o suficiente pra me fazer retrucar e não conseguir olhar nos olhos dele o resto da noite. Fiquei mal porque não gosto de me indispor com ninguém, mas sabia que estava certa e ali não cabia passar por cima da minha razão tão óbvia pela boa convivência. No dia seguinte não consegui esboçar nenhum sorriso pra ele, e até evitei contato visual porque achava essa situaçãozinha bem desconsertante. Mas não durou muito porque no domingo ele me surpreendeu! Depois de mais um dia cansativo de trabalho ele veio até mim e pediu desculpa por ter sido estúpido, se exaltado e batido boca comigo. Eu aceitei, é claro, e expliquei que não costumo reagir daquela forma, mas outros motivos me deixaram muito irritada. Nos abraçamos e eu sorri, espontaneamente! Foi tão sincero, que nem me importei com o tempo que levou pra que ele me procurasse de coração aberto, disposto a ouvir qualquer coisa que eu resolvesse falar. Confesso que não esperava tamanha humildade, e eu não quero dizer que ele é prepotente. Eu simplesmente achei que uma hora ou outra a raivinha ia passar, naturalmente, e quando menos esperássemos estariamos rindo de nossas piadas juntos, de novo. Pedir desculpas pode parecer cômodo do ponto de vista de quem é vítima de muitos vacilos da mesma pessoa, e eu até concordo. Mas é uma atitude corajosa e eu dei todos os créditos que ele mereceu. Depois de subir mentalmente o meu colega no meu próprio conceito, fiquei pensando em como, e quantas vezes, eu quis me sentir dona de uma atitude semelhante à que vi ele ter ali, naquele momento em que me parou e deu o primeiro passo da "reconciliação". Não hesitar quando preciso de respostas decisivas e me sentir firme o suficiente pra passar segurança aos que também hesitam comigo, às vezes. Pior do que não conseguir falar alguma coisa, é não poder escutar o que você sabe que está entalado na garganta de alguém. Quem nunca teve vontade ou sentiu que precisava parar uma pessoa, como ele fez comigo, e lançar um: "Vem cá, fala comigo!"?. Enquanto não atinjo esse patamar de coragem, auto-confiança ou o que quer que seja, continuo aqui. Sempre aqui, e sempre pronta pros momentos em que essas pessoas que precisam ser paradas vão criar coragem de vir até mim e contar muitas coisas que no fundo eu até já sei. E isso, mal sabem elas, é exatamente o que eu quero ouvir...